Por Satyanarayana Dasa
Há um importante sutra de Purva-mīmāṁsā (3.1.22): “guṇānāṁ ca parārthatvāt asambandhaḥ samatvāt syāt“. Sua tradução é muito técnica, então vou explicar de forma simplificada. A palavra guṇa aqui se refere a objetos e ações que se destinam ao yajña principal, que é referido pela palavra “para” que significa primário.
O sūtra está relacionado à ação do ādhāna (colocação do fogo) e pavamāna-havis (um tipo de oferenda ao fogo) usado para a saṁskāra do fogo, agni.
Aqui agni é primário e ādhāna-karma e pavamāna-havis são secundários a agni. O sutra nega qualquer relação direta entre ādhāna-karma e pavamāna-havis. Esses objetos e ações têm uma relação com agni porque são seus subsidiários, mas não possuem nenhuma relação independente entre si.
Para colocar em linguagem simples, o sūtra diz que se houver um objeto primário com objetos subsidiários, então os subsidiários não estão inter-relacionados uns com os outros independentemente do objeto primário. Em outras palavras, os objetos subsidiários não têm um relacionamento por si mesmos.
A palavra guṇa significa “qualidade”. Uma qualidade é algo inerente a uma substância. Qualidade não existe independente da substância. A substância é chamada primária, e a qualidade é chamada secundária, pois a qualidade é enraizada e abrigada na substância. Uma substância pode ter muitas qualidades. Mas essas qualidades não têm relação umas com as outras, exceto através da substância na qual elas existem.
Por exemplo, uma Flor de Lótus amarela possui cor, peso, fragrância, forma, etc. como suas qualidades. A cor, o peso, a fragrância e a forma não têm relação entre si. Seu relacionamento acontece somente através da Lótus.
Da mesma forma, se uma pessoa executa diversas atividades, estas atividades não estão relacionadas umas às outras. Se Rāmadāsa toma banho, aplica tilaka, cozinha, oferece o bhoga a Kṛṣna, toma prasādam e depois vai trabalhar, então as atividades de tomar banho, aplicar tilaka, cozinhar, oferecer, comer e ir ao trabalho não possuem relação entre si independente de Rāmadāsa.
Este princípio também estende-se aos nossos relacionamentos uns com os outros. No mundo material, existem basicamente três coisas reais: substâncias, qualidades e ações. Em última análise, as três são enraizadas em Kṛṣna. Portanto, Ele é chamado a causa de todas as causas, sarva-kāraṇa-kāraṇam (Brahma-saṁhitā 5.1). Kṛṣna também diz que Ele é a fonte de todas as substâncias e ações, ahaṁ sarvasya prabhavaḥ mattaḥ sarvaṁ pravartate (Gītā 10.8).
Aqui a palavra prabhavaḥ refere-se a substâncias e pravartate refere-se a ações. As qualidades são inseparáveis das substâncias; portanto, Kṛṣṇa não faz menção explícita a elas. Śrī Kṛṣṇa também diz que todas as jīvas no mundo material são Suas partes, aṁśas (Gītā 15.7).
Isso significa que Kṛṣṇa é o elemento primário, sendo o todo, e as jīvas são os elementos secundários, Suas aṁśas. Pela aplicação do Pūrva-mīmāṁsa sūtra que citei anteriormente, duas ou mais jīvas não podem ter qualquer relacionamento real uma com a outra. Seu relacionamento só pode acontecer e existir através de Kṛṣṇa, a fonte de todas as jīvas. Isso significa que sem manter Kṛṣṇa no centro, nenhum relacionamento na sociedade humana pode realmente existir e funcionar. Neste caso qualquer relacionamento será apenas imaginação, pois não existe relação real nele.
Além disso, entende-se também que ninguém de fato pode possuir algo, pois não é possível uma relação de proprietário e possuído. Toda propriedade é imaginária e baseada em um acordo comum entre as pessoas, chamado lei ou Constituição. Isso explica o por que pessoas materialistas bem como aqueles que não acreditam nas escrituras jamais se encontram satisfeitos em seus relacionamentos ou com as suas posses.
Isso também explica por que mesmo seguidores do śāstra e devotos de longa data não são capazes de terem relacionamentos amorosos satisfatórios uns com os outros se não mantiverem o princípio último em mente, o relacionamento devocional com Kṛṣna, conforme definido por Śrī Rūpa Gosvāmī:
anyābhilāṣitā-śūnyaṃ jñāna-karmādy-anāvṛtam |
ānukūlyena kṛṣṇānuśīlanaṃ bhaktir uttamā ||1.1.11|| Bhakti-rasāmṛta-sindhu
Com esquecimento deste objetivo, o ciúme, a inveja, o ódio, a competição materialista e a crítica virão a ocupar a mente do devoto. Com tal mentalidade, ele não será capaz de ver que cada discípulo do guru é apenas uma parte de Kṛṣna. Ele não poderá ver que o guru é uma manifestação da potência de Kṛṣṇa e os devotos são subsidiários para ajudá-lo.
Aqueles que agem de acordo com este princípio, podem experimentar Vaikuṇṭha aqui, pois Vaikuṇṭha não é simplesmente um lugar físico. Vaikuṇṭha é principalmente a consciência definida no verso do Bhakti-rasāmṛta-sindhu. Este é o principal ensinamento do Bhāgavata Purāṇa. Este é o rahasya – o segredo.
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