Já fazem quase 35 anos que leciono, embora eu não tenha uma inclinação natural para isso. O que eu mais gosto é de estudar, não ensinar. Mas ensinar parece ser meu Karma. Pois, assim que comecei a aprender Sânscrito, também comecei a ensiná-lo. Sempre pediam-me para ensinar uma coisa ou outra. A verdade é que eu aprendi mais ensinando do que estudando. A docência passou a fazer parte do meu dia-a-dia, embora eu prefira e goste mais de estudar.
Diferentes professores têm seus próprios estilos de ensino. Alguns professores não permitem perguntas durante as aulas; perguntas só podem ser feitas ao fim da aula. Outros permitem perguntas a qualquer momento. Eu pertenço à segunda categoria de professores.
Em meus papéis simultâneos de estudante e professor, tenho boa experiência em fazer e responder perguntas. Também tive vários tipos de alunos fazendo perguntas. Às vezes, as perguntas trazem os detalhes mais sutis do assunto que está sendo ensinado. Todos se beneficiam de tais perguntas. Às vezes, no entanto, as perguntas feitas são irrelevantes, mal formuladas, sem clareza ou até mesmo triviais. Tais perguntas não beneficiam nem o questionador nem qualquer outra pessoa. De fato, elas são apenas uma perda de tempo e muitas vezes irritantes. Mas hoje, nos tempos modernos, espera-se que o professor jamais se aborreça e permaneça tolerante e respeitoso com os alunos. Longe vão os dias em que os professores guiavam e mandavam na sala de aula. Quando eu era aluno, pude experienciar o ensino desta geração de Professores.
Para ilustrar o que significava estudar com um Professor tradicional, vou relatar um incidente. Eu havia começado a estudar o Tarka Saṅgraha com Svāmī Śrī Śyāma Śaraṇa Ji Maharaja Nyāyacārya, um ācārya muito renunciado e erudito da Nimbarka Sampradāya, e um dos meus dois principais professores. Deveria ser minha segunda ou terceira aula. Eu estava sentado no chão na frente dele, ouvindo-o com muita atenção. Enquanto ouvia, senti uma coceira na minha orelha direita e comecei a coçá-la. Ele percebeu isso e ficou furioso. Ele me repreendeu fortemente: “Não seja frívolo. Se você quer estudar comigo, seja sério e preste atenção.” Parei imediatamente, e, nos 22 anos seguintes nos quais estudei sobre a guia dele, jamais ousei fazer algo similar. Essas palavras ainda soam em meus ouvidos e toda a imagem está fresca em minha mente. Isso não significa que ele era uma pessoa irada. De fato, Ele era muito amoroso, gentil e dedicava-se ao ensino. Às vezes, Quando lecionava sobre textos mais avançados sobre Nyāya, ele tornava-se cativo de algum ponto filosófico profundo. Então ele dizia: “Vamos parar a lição aqui”. Ele não seguiria a menos que o ponto fosse completamente esclarecido. Após a aula, inesperadamente ele vinha ao meu quarto e dizia: “Satyanārāyana, entendi o ponto.” Ele me explicava e então ia embora. Ele me ensinou até o último dia de sua vida. Onde você pode encontrar tais professores agora? Nos tempos modernos, o professor deve respeitar os alunos. No mundo material, tudo acontece em ciclos, como uma roda gigante!
Submeto este artigo principalmente como um apelo aos meus alunos para que sejam criteriosos ao fazer perguntas. Se outros se beneficiarem com este artigo – essa é a graça deles sobre mim. Com base na minha experiência, bem como no meu estudo de śāstra, que foi principalmente no formato de pergunta/resposta, enumerei doze categorias de perguntas, as quais serão descritas abaixo. Entre estas categorias, os quatro primeiras são tipos de perguntas desejáveis. Pode-se ver exemplos delas no śāstra. As demais categorias são perguntas indesejadas que criam apenas uma perturbação à disciplina a ser ensinada, bem como aos alunos.
1. Loka-hitam Praśna — A pergunta que beneficia a todos
Estas são as melhores perguntas, pois elas, com suas respostas, encantam o orador e beneficiam quem as ouve. Tais perguntas não estão relacionadas especificamente ao questionador, mas à humanidade em geral. Exemplos de tais perguntas podem ser encontrados em todo o śāstra, especialmente no Śrīmad Bhāgavata, a nata de todo o śāstra. No primeiro capítulo do Śrimad Bhāgavata, o sábio Śaunaka fez seis perguntas a Śrī Sūta Gosvāmī. Sūta ficou tão satisfeito com as perguntas que honrou Śaunaka antes de responder às perguntas. Ele disse:
iti sampraśna-saṁhṛṣṭo viprāṇāṁ raumaharṣaṇiḥ
pratipūjya vacas teṣāṁ pravaktum upacakramemunayaḥ sādhu pṛṣṭo ‘haṁ bhavadbhir loka-maṅgalam
yat kṛtaḥ kṛṣṇa-sampraśno yenātmā suprasīdati
Ugraśravā, o filho de Romaharṣaṇa, ficou encantado com as perguntas oportunas dos brāhmaṇas. Após expressar seu apreço pelas palavras, ele começou a responder:“Ó sábios, vocês me questionaram sobre algo extremamente significativo, benéfico para o mundo inteiro, pois a investigação completa sobre Śrī Kṛṣṇa, conforme conduzida por vocês, é a mesma pela qual o eu é completamente realizado.” (SB 1.2.1 e 1.2.5)
Pode-se imaginar o deleite e entusiasmo que Sūta deve ter sentido ao ouvir estas perguntas. O mesmo pôde ser visto quando o rei Parikṣit dirigiu sua pergunta a Śrī Śukadeva Gosvāmī. Após ouvir a pergunta do rei, Śrī Śukadeva começou sua resposta apreciando a pergunta. Ele disse:
varīyāneṣa te praśnaḥ kṛto loka-hitam nṛpa
ātma-vit-sammataḥ puṁsāṁ śrotvyādiṣu yaḥ paraḥ
“Ó rei, a sua pergunta, a qual foi feita visando o bem-estar do mundo, é muito excelente. É aprovada pelos conhecedores do Absoluto, pois nela há o assunto mais elevado, nela está o que é o mais digno de ser ouvido pelos seres humanos”. (SB 2.1.1)
2. Sva-hita Praśna— A pergunta para o próprio bem
Tal pergunta é feita visando principalmente o bem do questionador, pois está relacionada à sua vida pessoal. Porem, outros podem se beneficiar com a sua resposta. Um exemplo disso é a pergunta feita por Śri Vyāsa a Nārada onde ele indaga sobre a causa da insatisfação que sentia, embora tivesse trabalhado para o bem-estar da humanidade (SB 1.5.7). Embora a resposta da pergunta fosse específica para o questionador, ela trouxe como consequência o bem-estar para todos, pois o questionador estava engajado no bem-estar da humanidade. Baseado na resposta de Śri Nārada, Śrī Vyāsa manifestou o Śrimad Bhāgavata. Deve-se notar que no verso aonde está descrita a manifestação do Bhāgavata, o verbo cakre (forma do particípio passado da raiz kṛ, “fazer”) é usado (cakre sātvat-saṁhitām, SB 1.7.6). O verbo cakre significa “composto ou manifestado”. O verbo, no entanto, é usado com a terminação ātmanepada, e, portanto, implica que a ação foi feita visando o seu próprio bem. Como alternativa, o particípio passado cakāra poderia ter sido usado no lugar de cakre. Neste caso, o verbo estaria com a terminação parasmaipada e teria implicado que a ação foi feita visando o bem-estar dos outros.
Outro exemplo de uma pergunta sva-hita é quando o menino Dhruva aproximou-se do sábio Nārada e pediu para que lhe ensinasse o método para obter um reino que jamais tivesse sido alcançado por nenhum de seus predecessores. Ele disse:
padaṁ tribhuvanotkṛṣṭaṁ jigīṣōḥ sadhu vartma me
brūhyasmat pitṛbhir brahman nanyair apy anadhiṣṭhitam
“Ó Brahmana! Por favor, diga o método adequado para mim, que desejo a melhor posição entre dos três mundos, aquela que jamais foi alcançada pelos meus antepassados.” (SB 4.8.37)
3. Viṣaya-śodhaka Praśna—A pergunta que traz clareza
Esta é a pergunta que ajuda esclarecer o assunto que está sendo explicado pelo professor. Quando um aluno atento e inteligente ouve uma palestra, ele tenta compreendê-la de maneira convincente. Se ele sentir que algo não faz sentido, ou parece ilógico, ele então fará uma pergunta para esclarecer o seu entendimento. Um exemplo disso é visto na história do rei Śisupāla alcançando sāyjya-mukti ao ser morto por Śri Kṛṣṇa. O rei Yudhiṣṭhira ficou muito surpreso ao testemunhar isso. Portanto, ele fez uma pergunta ao sábio Nārada. A essência da sua pergunta era: “Śisupāla tinha inveja de Kṛṣṇa desde seu nascimento. Ele proferia palavras abusivas sempre que via Kṛṣṇa. Isso foi uma grande ofensa da parte dele. Como resultado disso, ele merecia sofrer no inferno. Em vez disso, ele obteve mukti, a qual é tão rara. Como isso é possível?” (SB 7.1.15-20). Estas perguntas ajudam os outros alunos a entenderem melhor o tópico. Elas também agradam muito ao Professor, pois indicam que o aluno está prestando atenção (SB 7.1.21).
4. Prasaṅga Praśna— A pergunta relacionada ao tópico em discussão
Esta pergunta é semelhante à anterior. Ambas ajudam a tornar o assunto mais claro. A diferença é que a pergunta anterior está relacionada à cogência do assunto apresentado, enquanto esta, está relacionada a detalhes ou fatos históricos. É deste modo que as histórias nos Purāṇas são apresentadas. Śaunaka fez as famosas seis perguntas a Sūta Gosvāmī no primeiro capítulo do Bhāgavata. Sūta Gosvāmī respondeu as nos capítulos dois e três do primeiro Canto. A última pergunta foi acerca do abrigo do dharma após a partida de Kṛṣṇa da terra. Perto do final do terceiro capítulo, Sūta disse que o dharma atualmente se abriga no Bhāgavata, o qual ele comparou ao sol. Ao ouvir isso, Śaunaka indagou acerca da a aparência do Bhāgavata. E é assim que o livro prossegue – um tópico ou historia levando a outro.
5. Ati Praśna— A pergunta Inapropriada
Certos assuntos são inapropriados para perguntar. Não é qualquer um que pode fazer qualquer pergunta. Assim como fazemos com nossos amigos e parentes, não devemos fazer perguntas inapropriadas ao professor. Certas coisas são pessoais, não devem ser ditas em público ou apenas podem ser reveladas em sigilo. Śaunaka diz que o guru revela conhecimento confidencial apenas para seu discípulo íntimo e afetuoso (SB 1.1.8). Isso implica que tal conhecimento não deve ser revelado abertamente. Por exemplo, é proibido revelar a experiência espiritual, prática, mantra, japa-mālā, iṣṭa-deva e guru. Pode-se referir a Hari-bhakti-vilāsa (2.147, 17.130, 131, 255) para tal proibição. Manu Smṛti (2.110, 111) e Mahābhārata (Śānti Parva 327.51) dizem que não se deve responder a uma pergunta imprópria ou a um aluno desqualificado.
No Bṛhad-araṇyaka Upaniṣad (terceiro capítulo), há a descrição de um debate onde o vencedor seria premiado com 1000 vacas. O Sabio Yajñavalkya aceitou o desafio. Pessoas diferentes vieram debater com o sábio. A sexta parte do terceiro capítulo descreve Gārgī questionando o sábio Yajñavalkya. Ela faz pergunta após pergunta ao sábio, e, ele continua a responder. A sua pergunta final foi: “Pelo que Brahma-loka [o mundo de Hiraṇyagarbha] é permeado?” Ao ouvir isso, o sábio mostrou-se aborrecido e respondeu: “Ó Gārgī, não ultrapasse o limite da investigação, para que sua cabeça não caia. Você está questionando sobre uma divindade que não deve ser questionada.” Gārgī estava tentando entender Hiraṇyagarbha através do raciocínio, mas Hiraṇyagarbha transcende a toda razão. Portanto, esta foi uma pergunta inapropriada.
6. Viṣayāntara Praśna— A pergunta não relacionada ao tópico
Como fica claro pelo nome, essa é a pergunta feita por um membro da audiência que não está compreendendo o que está sendo descrito e pode estar desinteressado no assunto. O assunto pode ser sobre Kṛṣṇa-līlā, e a pergunta pode ser sobre Rāmacandra abandonar Sītā Devī. Um exemplo inverso disso está em um ditado sânscrito: āmrān pṛṣṭaḥ kovidārān ācaṣṭe—“Enquanto solicitado a descrever mangueiras, ele começa a explicar sobre a árvore Kovidāra”.
7. Kaṇḍūti Praśna—A pergunta similar a coceira
Algumas pessoas parecem ter uma coceira para fazer perguntas. Eles não pensam no que estão perguntando. Elas fazem uma pergunta sem mesmo prestar atenção ao que foi explicado claramente. Eu chamo de coceira por a pessoa ser impulsiva ao fazer a pergunta. Às vezes, o questionador nem me deixa completar frase ou expor o ponto o qual estou tentando explicar. A pessoa age como quando sente uma coceira, imediatamente quer coçar, o faz sem qualquer análise ou pensamento.
8. Bāliśa Praśna—Perguntas infantis
Assim como uma criança pequena faz perguntas sem sentido aos seus pais, alguns estudantes fazem o mesmo. Se os pais não a responderem, a criança esquecerá e seguirá. A criança não está atenta ou focado à pergunta. Na categoria de pergunta anterior, se o aluno não for respondido, ele irá sentir-se chateado. Essa é a diferença entre as duas categorias. Por exemplo, durante uma classe, alguém disse: “Tenho duas dúvidas”. Eu respondi: “Ok, vá em frente, diga-as”. A pessoa então fez sua pergunta, a qual eu respondi. Então, eu esperei, mas o aluno não fez a segunda pergunta. Eu também não o lembrei de que ele havia dito ter duas dúvidas. O Aluno esqueceu-se completamente a segunda dúvida. Além disso, o que ele disse não era uma dúvida, mas uma pergunta. Ao fim deste texto irei descrever a diferença entre as duas.
9. Vitaṇḍa Prāśna—A pergunta provocativa
Alguns alunos fazem perguntas para provocar o orador. Tais alunos querem deixar o orador com raiva, colocá-lo em mal bocados, expor suas fraquezas ou refutá-lo. Tais perguntas podem ser feitas de forma planejada ou subconscientemente devido à natureza crítica do aluno. Certamente não é um tipo de pergunta muito agradável para o professor.
10. Prajalpa Praśna— A pergunta sem sentido
Alguns questionadores não têm certeza do que querem perguntar. Eles são incapazes de formular a pergunta e continuam divagando. A marca distintiva de tal pergunta é que o professor tem que perguntar: “Qual é exatamente a sua pergunta?” Na maioria das vezes, o aluno não consegue responder com clareza e continua divagando. Tal estudante não está claro em sua cabeça.
11. Darpa Praśna—A pergunta feita para mostrar sua própria erudição
Tal questionador quer impressionar seus colegas, mostrando-os o quando ele sabe. Este tipo de pergunta pode ser feita visando ganhar respeito dos colegas. Mas, também pode ter a intenção de minimizar a posição do orador.
12. Nirarthaka Praśna—A pergunta que não serve para nada
Esta pergunta está relacionada ao assunto; parece válida e importante. No entanto, não tem absolutamente nenhum valor educacional. Saber sua resposta não agrega nenhum valor ao conhecimento do aluno. Um exemplo disso foi visto em minha aula do Bhāgavata enquanto descrevia o Brahma-mohana-līlā. Brahmā roubou os bezerros e os vaqueirinhos. Śrī Viṣvanātha Cakravarti descreve que os bezerros e vaqueirinhos que foram roubados não eram os reais, mas uma criação de māyā. A razão é que os associados de Kṛṣṇa são imunes à māyā de Brahmā. Yogamāyā escondeu os verdadeiros bezerros e vaqueirinhos, e Kṛṣṇa se expandiu em um número igual de bezerros e vaqueirinhos. Brahma voltou depois de um ano e viu que tudo estava acontecendo como de costume e ficou surpreso ao ver os bezerros pastando e Kṛṣṇa brincando com Seus amigos. A pergunta que me foi feita foi: “ Os vaqueirinhos que Brahmā viu eram os verdadeiros ou aqueles que eram manifestações de Kṛṣṇa?” Eu respondi que Brahmā viu aqueles que eram manifestações de Krṣṇa.Eu gostaria de perguntar ao questionador: “Que diferença faria para Brahmā, você, ou qualquer um, qual grupo de meninos que Brahmā viu? Como isso enriquecerá sua compreensão desta līlā?” Posso estar errado, mas não consigo ver nenhum valor nesta pergunta. O assunto não terminou aí. Alguém perguntou persistentemente: “Eles eram expansões de Kṛṣṇa ou os vaqueirinhos reais se transformaram em formas de Viṣṇu?” Eu respondi, mas não pude ver valor algum nesta pergunta.
Deve-se atentar também acerca da diferença entre saṁśaya – dúvida e praśna – pergunta. Ambas possuem significados diferentes, embora estas palavras sejam usadas de forma intercambiável por muitos alunos. Dúvida significa incerteza, o que implica que existem duas ou mais possibilidades, e não se tem certeza de qual é a verdadeira.
The spiritual path is very important to understand. Why is it said to have a guru and surrender to a guru? If you don’t surrender, you are only going to hang on to your own mind and material lens. That’s what you have, you can’t get rid of it. It’s not possible. You have to surrender your mind, body, and speech to guru. You have to have this faith that if he is saying something and it doesn’t match my understanding, then I am going to give up my understanding.
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